Publicação foi criada por grupos de meninas moradoras do Morro dos Prazeres
“Chutando Pedrinhas” trata da relação de um pai com sua filha e de como alguns padrões de gênero limitam os desejos e sonhos dessa menina por reservarem papeis específicos para homens e mulheres na sociedade. Pai e filha, pela via do diálogo e do afeto, vão desconstruindo velhos conceitos e construindo os pilares para uma educação baseada na igualdade e no respeito à individualidade. A história é produto da criação coletiva de 17 meninas moradoras do Morro dos Prazeres, e foi lançada dia 29 de agosto, no Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro.
O projeto “Pais e filhas: construindo outras histórias”, desenvolvido pelo Promundo com apoio da Save the Children, reuniu o grupo de meninas com o objetivo de dar voz e fazê-las refletir sobre como gostariam de ser educadas de forma equânime em relação aos meninos e sem o uso de violência. A partir de dinâmicas e atividades que estimularam o brincar, a reflexão e a participação, as meninas foram construindo as cenas, os personagens, e as questões centrais abordadas na história.
O livro é o segundo de uma série que busca dar voz às crianças sobre sua relação com seus pais. O primeiro, “Vento no rosto”, que tem o objetivo de apresentar aos pais maneiras alternativas de educação livre dos castigos físicos foi criado em 2012 por um grupo de crianças da Maré e foi premiado em 2013 pelo 3rd Annual Avon Communications Awards: Speaking Out About Violence Against Women (3º Prêmio Anual Avon de Comunicação: Falando sobre Violência Contra as Mulheres), que reconheceu organizações cujas estratégias inovadoras de comunicação ajudam a transformar comunidades, instituições, políticas e comportamentos para prevenir e por fim a violência contra mulheres e crianças.
Pais e Filhas: uma relação mais próxima para a equidade de gênero
“Chutando Pedrinhas” foi inspirado nos resultados de uma pesquisa realizada pelo Promundo em 2009-2010, com pais, mães e meninas de duas comunidades do Rio de Janeiro, sobre como a relação entre os pais (homens) e suas filhas influencia nas atitudes de gênero das meninas. A pesquisa demonstrou a importância de desenvolver estratégias para promover relações mais próximas e equitativas de pais com suas filhas, objetivo desse livro.
Para muitos pais e responsáveis entrevistados na pesquisa, a diferença de gênero foi considerada um fator dificultador desta relação, por imaginarem que não poderiam dar conta de questões que são específicas de meninas, especialmente relacionadas às mudanças corporais na adolescência e sexualidade. Os pais acreditam também que meninas são mais frágeis e querem protegê-las das relações com meninos, vistos como mais “espertos” e violentos. Por outro lado, as meninas que participaram dos grupos focais tinham interesse em correr pela comunidade, soltar pipa e jogar bola com os meninos. Não entendiam porque não podiam fazer as mesmas coisas que seus irmãos.
No entanto, os pais e responsáveis também expressaram seu desejo em construir uma relação mais próxima e equânime entre suas filhas e filhos, além de educar meninas e meninos sem o uso de castigos corporais ou humilhantes.
“Para os pais, também socializados a partir de normas de gênero, não é simples fazer diferente na educação de suas crianças. Apesar de desejarem a felicidade e a liberdade de suas filhas, muitos pais com os quais o Promundo trabalha em suas oficinas e pesquisas, relatam não saber como educar meninas de uma forma mais igualitária em relação aos meninos, acolhendo e estimulando os sonhos de cada uma. É mais fácil reproduzir o modelo de homem e de mulher que se conhece”, disse Vanessa Fonseca, Coordenadora de Programas do Promundo.
O Promundo e a prevenção de violência contra crianças
Desde 2005 o Instituto Promundo, co-fundador da Rede Não Bata, Eduque, tem buscado estratégias para refletir com responsáveis sobre os direitos das crianças, incluindo seu direito à expressão de opiniões sobre questões que afetam diretamente suas vidas. Este trabalho deu origem a uma série de consultas com crianças e seus cuidadores, além de ferramentas para estimular maior participação infantil e incentivar pais e responsáveis a adotarem medidas disciplinares não violentas na educação de seus filhos. Estas publicações podem
ser encontradas no site do Promundo.
Sobre a violência contra crianças no Brasil
Segundo dados divulgados pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, a violência contra crianças e jovens atingiu 120 mil casos em 2012. Os números mostraram que 77% das denúncias registradas por meio do Disque 100 entre janeiro e novembro daquele ano foram relativas à violência contra crianças e adolescentes, o que corresponde a 120.344 casos relatados. Isso significa que, por mês, ocorreram 10.940 agressões contra crianças e adolescentes.
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