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Entrevista com Tala Noweisser: Trabalhando com jovens no Líbano para transformação de normas e expressão de emoções

Atualizado: 18 de mai.




Em julho de 2016, a ONG libanesa ABAAD-Centro de Recursos para a Equidade de Gênero (link em inglês) e o Promundo lançaram o Programa Ra em Beirute com o apoio do primeiro Prêmio Womanity, da Fundação Womanity (link em inglês). Adaptado do nosso Programa H, o Programa Ra estimula homens e meninos a desafiarem estereótipos baseados em gênero, questionarem ideias tradicionais sobre masculinidade e contribuirem para acabar com todas as formas de violência baseada em gênero no Líbano.


Tala Noweisser é Conselheira Escolar do 5º ao 12º ano na Wellspring Learning Community School, em Beirute. O Programa Ra começou a ser implementado nesta escola pela primeira vez a partir de outubro de 2016. Na entrevista a seguir, Tala conversa com Promundo sobre o seu trabalho, suas observações sobre as normas de gênero entre os jovens libaneses e a implementação do Programa Ra em sua escola.


A entrevista de Tala é a primeira de uma série de três entrevistas em profundidade que o Promundo está publicando este mês com os campeões do Programa Ra no Líbano.


(Esta é uma tradução da versão original da entrevista em inglês)


Qual é o seu papel como Conselheira Escolar na Wellspring Learning Community School?


Eu estou lá para atender às necessidades dos alunos e dos pais. Eu vou às salas de aula e observo as dinâmicas das aulas para ver o que precisamos abordar, como, por exemplo, as dificuldades acadêmicas e questões sociais. Também colaboro com os professores para integrar suas observações e feedbacks sobre como os alunos estão indo em diferentes disciplinas, porque eles podem ir bem em algumas, mas também podem estar ausentes ou tendo dificuldades em outras. Encontro com certa frequência com cada estudante e os observo durante o intervalo para ver como eles estão indo ao longo do dia. Se houver alguma preocupação, entro em contato com os pais para que eles saibam que estamos percebendo uma questão e para perguntar se há problemas em casa, a fim de entender melhor de onde o aluno está vindo. Também nos encontramos com os pais para compartilhar feedbacks e obter informações básicas.


Quais são os desafios que homens e meninos têm enfrentado em Beirute?


Há desafios para homens e meninos expressarem-se livremente. Eles se expressam, mas não tenho certeza se é a maneira pela qual eles realmente querem se mostar. Acredito que alguns dos alunos, especialmente na Wellspring Learning Community, gostariam de ser ouvidos ou percebidos de uma maneira diferente, mas provavelmente só fazem isso em particular, em vez de em público. Na sala de aula, se pedíssemos aos rapazes que expressassem sua raiva, eles o fariam violentamente. Eles não iriam fazê-lo verbalmente, porque isso exigiria que eles expressassem como estão se sentindo. Esta é a norma que observamos na escola. Essas normas dificultam a comunicação e não ajudam os meninos a atingirem seus objetivos. Podemos facilmente ver que eles estão com raiva, mas eles não conseguem transmitir sua mensagem sobre o que eles querem mudar. Eles apenas mostram sua raiva sem comunicá-la verbalmente.


Por que trabalhar com homens e meninos é importante para você?


Eu acredito na conscientização sobre a realidade de que todas e todos nós temos sentimentos. Vivenciamos várias emoções em momentos diferentes, dependendo das experiências pelas quais cada um de nós passa. É importante estimular a expressão de si mesmo para torná-la aceitável. Queremos que homens e meninos parem de suprimir emoções, acumulando-as por dentro. Isto complementaria os movimentos recentes para empoderar mulheres e meninas a expressarem-se e a expressarem suas opiniões.


Qual impacto você percebe quando os meninos suprimem suas emoções?


Você começa a ver os meninos exagerando sobre as coisas que eles fazem e impondo-se ainda mais. Você vê meninos envolvendo-se em bullying, projetando-se sobre os outros, e culpando as pessoas pelo que estão vivenciando no momento. Muitos têm raiva lá no fundo. Alguns optam por não mostrá-la, tornando-se passivo-agressivos. Outras vezes você vê reações que não fazem sentido até que você fale com eles. Eu acredito que a falta de vocabulário para indicar o que estão sentindo tem um impacto enorme no comportamento dos meninos. É importante não apenas estar ciente de diferentes emoções, mas também ensinar as palavras para descrever os sentimentos. Tendemos a pensar que só vivenciamos “felicidade”, “animação” ou “raiva”, mas há toda uma gama de emoções que sentimos e os meninos não têm palavras para expressarem-se bem.


Você pode descrever sua parceria com ABAAD, Promundo e Fundação Womanity para implementar o Programa Ra em Wellspring?


Na Wellspring temos um curso chamado “Serviço como Ação”, onde desenvolvemos um programa com os alunos para servir a comunidade em que vivemos durante todo o ano. Como o Serviço como Ação é um requisito acadêmico, queríamos ter pessoas profissionais no campo para nos guiar através de diferentes atividades e temas, e dar aos alunos e ao pessoal perspectivas diferentes.


Nosso Coordenador de Serviço como Ação entrou em contato com Anthony Keedi, Gerente do Programa Engajando Homens na ABAAD, e o convidou para visitar a escola e liderar uma sessão sobre gênero para nossos alunos do 11º ano, que achamos que eles realmente gostaram. Ter um orador convidado tem um impacto diferente sobre os alunos porque o convidado oferece uma nova perspectiva e abordagem. Mostra diversidade e enriquece a experiência. Ter esta parceria com a ABAAD é importante e tem muitos benefícios em termos de como avançar.


O que você espera que a juventude consiga por meio da participação no Programa Ra?


Espero que eles se tornem mais confiantes sobre as diferentes experiências que passam e que eles entendam que não é um problema sentir essas emoções, porque elas estão lá. Não há mal algum em se expressar: se eu tiver que dizer o que estou sentindo, isso não me afetará negativamente. O programa vai ajudar os alunos a serem mais produtivos. Eu quero que eles saibam que os papéis de gênero existem, para que entendam como gerenciar as diferentes expectativas, e sejam capazes de falar se há algo que precisa mudar, para que eles não sintam que têm de se conformar.

 

Wellspring é muito diversificada, pois temos estudantes provenientes de culturas e origens étnicas e religiosas totalmente diferentes. A enorme diversidade é muito enriquecedora porque os alunos aprendem uns com os outros. Há ainda muitas línguas diferentes faladas em Wellspring. Queremos conscientizar de que as coisas são feitas de forma diferente em diferentes culturas e ensinar como aceitar e gerenciar as diferenças e preconceitos, expressando nossas próprias opiniões e emoções, mas também respeitando as dos outros. Eu posso absolutamente ver como esse projeto vai ter um impacto positivo para os nossos alunos.

Nota da Editora: Esta entrevista foi editada para adequação de tamanho e compreensão.

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