Bola Dividida: Quando a quadra comunitária é lugar de desenvolvimento

Por Norma Sá, coordenadora de projetos do Promundo-Brasil

A bola é o ponto central de encontro. Meninos e meninas se reúnem a sua volta, correm, saltam, driblam e a lançam na rede. Querem jogar um jogo que não se joga sozinho, um jogo no qual, para alcançar o objetivo, é preciso ser parte de um grupo, time, equipe, seja lá que nome se pode dar para esta reunião de crianças ou adolescentes. E se o jogo não se joga só, é preciso se relacionar com outros e outras, preservar este relacionamento para que jogos futuros aconteçam.

É assim que acontece no “Praticando Esporte, Vencendo na Vida”. Conduzido por Promundo na comunidade do Guararapes, Rio de Janeiro, o projeto envolve crianças e adolescentes em prática esportiva, aulas de reforço de Português e Matemática e oficinas educativas sobre gênero.

Quando chegamos à comunidade a quadra estava lá, os meninos e meninas a sua volta. Bola até tinha, ainda que velhinha e bem surrada. Mas o jogo nem sempre acontecia ou, pelo menos, não se chegava ao final das partidas, porque as brigas e desentendimentos tomavam conta da quadra. As meninas não conseguiam nem chegar perto da bola. Sem enxergar suas diferenças e sem respeitar uns aos outros, as ofensas pessoais e insultos eram constantes e muitas vezes a violência verbal se concretizava fisicamente. O individualismo se sobrepunha a coletividade.

A intervenção na quadra comunitária foi atrelada a uma união de esforços de muitos, em especial das equipes de educação física e de educadores/as e, é claro, das crianças e adolescentes. Colocamos em campo não apenas as técnicas e táticas das diferentes práticas esportivas, mas mecanismos de relacionamento para a vida.

Compartilhamos experiências e informações, apoiamos meninos e meninas de forma positiva e construtiva, dialogando e considerando a vivência de cada um/a na construção de uma identidade grupal. Somamos ao tempo da prática esportiva atividades educativas e dinâmicas, em um espaço seguro para reflexões sobre as desigualdades e a reprodução da violência.

Enquanto se percebia concretamente a transformação das relações; desde a interrupção da agressão física até a maior participação nos debates, onde as crianças e adolescentes podiam falar e ouvir; se percebia o crescimento da presença das meninas e a inserção delas no esporte.

A crença generalizada de que meninas não são “boas” para jogar foi aos poucos sendo desnaturalizada, desmontando conjuntamente uma série de estereótipos sobre as mulheres, suas habilidades e capacidades. Reunir meninas e meninos para jogarem na quadra comunitária trouxe o desafio de se entender as diferenças e também aquilo que nos faz próximos e iguais.

O desenvolvimento de crianças e adolescentes se fortalece quando o encontro sustenta um espaço de confiança, é colaborativo e incentivador. E a bola pode, então, ser dividida.

Quer saber mais sobre o projeto?

Clique aqui e confira o vídeo “Bola Dividida: Educação e Esporte para a Igualdade”, que traz na voz das crianças e da equipe do projeto a experiência nas comunidades do Guararapes e Maré.

voltar ao índice