noticias
Literatura de Cordel é utilizada para sensibilizar sobre a violência contra mulher no Ceará
novembro 24, 2014
O Projeto “Mulher de Lei – pelo Enfrentamento à Violência Doméstica”, idealizado pelos músicos Tião Simpatia e Naná Jucá, tem o objetivo de apresentar a Lei Maria da Penha em forma de cordel na rede pública de ensino, enquanto instrumento lúdico e pedagógico, com o objetivo de divulgar a Lei n° 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, que coíbe a violência doméstica e familiar contra a mulher. O projeto foi lançado em 21 de agosto de 2009, com a 1ª edição do Show Mulher de Lei, no Centro Dragão do Mar em Fortaleza, que um ano depois daria origem ao DVD Mulher de Lei, composto de 13 faixas, todas focadas na valorização da mulher, com ênfase na Lei Maria da Penha.
O projeto é desenvolvido em parceria com o Instituto Maria da Penha – IMP e a Coordenadoria Especial de Políticas para Mulher do Estado do Ceará – CEPAM, e tem como raio de ação o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, através da música e da literatura de cordel. O projeto tem sido desenvolvido em cidades do Ceará.
O músico Tião Simpatia compôs um cordel sobre o Laço Branco, que nós compartilhamos abaixo.
Para saber mais sobre o projeto Mulher de Lei, aqui.
Cordel do Laço Branco
Autor: Tião Simpatia
I
Colocar o Laço Branco
É mais que uma atitude
É um ato de consciência
Do homem que tem virtude
E a paz sempre procura
Pois não se muda a cultura
Sem que a cabeça mude.
II
Historicamente o Brasil
É um país patriarcal
Não diferente de outros
No contexto mundial
Só pra exemplificar
Nesse cordel vou contar
O que houve em Montreal.
III
O fato que vou narrar
Ainda hoje comove
Pessoas no mundo todo,
É algo que nos envolve
Pelo que li e me lembro
Deu-se em seis de dezembro
Do ano de oitenta e nove.
IV
Na Escola Politécnica
Da cidade referida
Capital do Canadá
Revelou-se um homicida
Num ato frio e covarde
Entrou sem fazer alarde
E disparou em seguida.
V
O seu alvo era as mulheres
Do curso de engenharia
Suas colegas de classe
Contra as quais dispararia
A chacina concluída
14 perderam a vida
Naquele sangrento dia.
VI
Após o ato covarde
Ele se suicidou
O motivo da barbárie
Numa carta ele deixou
Pois não admitiria
Mulher cursar engenharia
E por isso as matou.
VII
Um curso tradicional
Pelos homens dominado
Fez com que Marc Lepine
Se sentisse incomodado
Com a presença feminina
Em sua mente assassina
Já tinha um plano traçado.
VIII
Mandou que saíssem os homens
Quarenta e oito, total
E começou a tirar
Com sua fúria brutal
Sem dar defesa nenhuma
Executou uma a uma
E a si próprio no final.
IX
O crime mobilizou
A toda sociedade
Gerando vários debates
Sobre a tal desigualdade
Entre homens e mulheres
Surgiam os caracteres
Da palavra “Equidade”.
X
A Equidade de Gênero
Que hoje é tão discutida
Ganhou força nos debates
Passou a ser mais conhecida
No Canadá e no mundo
Após o golpe profundo
Dado por esse homicida.
XI
Em repúdio ao ato extremo
Os homens se organizaram
E como símbolo de luta
O Laço Branco criaram
Para relembrar a data,
Não pelo psicopata,
Mas, as vítimas que tombaram.
XII
Lançaram, assim, a primeira
Campanha do Laço Branco
(White Ribbom Campaign)
Em inglês, pra ser mais franco.
Pra barrar a violência
Que desce com truculência
Como pedra em barranco.
XIII
No Continente Asiático
Logo fizeram adesão:
A Índia e o Vietnã
Seguido pelo Japão
A terra do sol nascente
Diante do incidente
À barbárie, disse não.
XIV
O Continente Europeu
Também adere à campanha:
Noruega, Dinamarca
Suécia, Bélgica e Espanha
Inglaterra, Portugal
Também dão exemplo igual
Finlândia e Alemanha.
XV
No Continente Africano
A luta ganhou espaço
Marrocos, Quênia, Namíbia
Cada um deixou seu traço
Diálogo é o melhor remédio
E até no Oriente Médio,
Israel usou o Laço!
XVI
A Austrália aderiu.
E nos Estados Unidos
Milhares de Laços Brancos
Foram então distribuídos
Em praças e residências
Trocando as experiências
Com os países envolvidos.
XVII
No Brasil, o Laço Branco
Chegou oficialmente
Somente em 2001
Também não foi diferente
Dos países já citados
Muitos foram os resultados
Tidos até o presente.
XIII
Só um fato importante,
Agora para encerrar:
No Brasil, nossas mulheres
Também não podiam cursar
O Nível Superior
Sub a Lei e seu rigor
Resguardavam-se ao lar.
XIX
Em dezoito, vinte e sete (1827).
As primeiras Faculdades
De Direito do Brasil
Não davam oportunidades
Pra mulher cursar Direito
Era grande o preconceito
Gerando as desigualdades
XX
Somente em Setenta e Nove
Daquele Século corrente
As mulheres brasileiras
Podem cursar finalmente
O Nível Superior
Eis que a palavra Doutor/a
Ganha um (a) a mais na frente!
XXI
Que não se repitam mais
As barbáries de outrora
Como houve em Montreal,
Nova Iorque, que implora
O perdão por suas filhas
Carbonizadas nas trilhas
Do progresso que explora.
XXII
Usemos o Laço Branco,
Homens de boa vontade!
Esse gesto é simbólico
Mas mostra a sociedade
Que uma cultura de paz
A gente mesmo é que faz
Com respeito igualdade.
Fim